sexta-feira, 19 de abril de 2024

ANGRA - CYCLES OF PAIN TOUR - 12/04/2024 - BAR OPINIÃO - PORTO ALEGRE/RS

 


ANGRA
CYCLES OF PAIN TOUR
Abertura: Toffoli, Jeff Scott Soto
12/04/2024
Local: Bar Opinião - Porto Alegre/RS
Produção: Opinião Produtora

Texto e Fotos: Henrique Lippert


Nem mesmo a garoa fina que caiu durante o dia desanimou os fãs que aguardavam a abertura dos portões em frente ao Bar Opinião. O Angra voltou à capital gaúcha no último dia 12 de abril para mais uma noite memorável, desta vez com o convidado especial Jeff Scott Soto.

Elevando a régua lá no alto, a Toffoli abriu a noite com muita qualidade. A banda que conta Luiz Toffoli (guitarra), Cássio Marcos (vocal), Douglas Máximo (baixo) e Pedro Tinello (bateria) trouxe um prog de respeito, evidenciando a técnica dos músicos. Tendo feito a abertura do Angra no ano passado, boa parte do público recordou as músicas do "Enigma Garden", e a surpresa veio com as novas composições do álbum que (segundo a banda) em breve será lançado. Entre uma música e outra, os músicos se apresentaram, reforçaram a importância do apoio aos artistas locais e se despediram, mas não antes da clássica foto da banda com o público.


Na sequência, o palco foi organizado com alguns bancos altos, entregando que Jeff Scott Soto e Leo Mancini entrariam em breve. Arriscando algumas palavras em português, o vocalista se mostrou muito à vontade ao entrar no palco com sua dupla e chamar o público pra si. "Livin' the Life" iniciou os trabalhos e, antes de emendar "Mysterious" do Talisman, o frontman expressou sua felicidade ao completar quatro décadas de rock'n roll. Jeff rasgou elogios ao Angra e continuou interagindo bastante com a plateia, embalando com "Alive" do Sons of Apollo.

Enaltecendo o colega Leo Mancini e os mais de 20 anos de parceria, "Eyes of Love" e "Comes Down Like Rain" serviram de ponte para um clássico que fez todos cantarem. "Leo me disse que vocês vão ficar loucos com essa, mas se não ficarem eu vou dar um soco nele!", brincou Jeff antes brindar a noite com "Carry on my Wayward Son", que fez os fãs cantarem alto até o final da música. Ainda com a energia lá em cima a dupla fez um cover de Crazy, do Seal, de dar inveja. "I'll be Waiting" encerrou em grande estilo esse bloco, mantendo o público interagindo e cantando. Ao deixar o palco para a banda principal, Soto falou que tocará na próxima semana (chegando a errar o dia ao confundir sexta com sábado), sendo ovacionado pelos gaúchos enquanto se retirava.


Após uma breve espera, o Angra finalmente subiu ao palco, com Fábio Lione (vocal), Marcelo Barbosa e Rafael Bittencourt (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria). De arrancada, "Nothing to Say" animou o público, que recebeu os artistas com gritos e animação. A clássica "Angels Cry" veio logo depois, mantendo a plateia cantando forte, dando sequência a "Newborn Me" "Lisbon".

Trazendo uma composição do álbum mais recente, o grupo traz "Vida Seca", cantada em partes pelo Rafael também. Do mesmo disco, "Dead Man on Display" veio logo após, dando sequência a música homônima ao álbum "Rebirth", onde o público interagiu e cantou com emoção. Não diferente, "Morningstar" do "Temple of Shadows" (2004)mostrou que também tem lugar especial no coração dos fãs. "Time" que começa lentamente e ganha velocidade também foi bem recebida.



Lione, sempre carismático e comunicativo, pergunta se o público está cansado, enquanto brinca ao dar tchau para alguém aleatório do público. Foi a vez de "Cycles of Pain" vir à tona, música do álbum mais recente e que a plateia cantou junto até o final. Esperamos um momento até que os bancos voltaram ao palco, enquanto Rafael se desculpava com os fãs por ter esquecido de trazer o violão. Acontece, não é mesmo? "Tudo resolvido, O Leo Macnini me emprestou o seu", disse Bittencourt logo após. Sendo um instrumento de 12 cordas, "Silent Call" foi improvisada na hora abrindo caminho pra dobradinha acústica. Homenageando brevemente André Matos, Rafael chama de volta ao palco Lione para cantar "Make Believe".

Em um crescendo constante, a banda inteira voltou para o último bloco da noite, trazendo a incrível "Ride into the Storm", sendo procedida pela "Silence and Distance", outra do Holy Land (1996). Logo depois de confessar ao público que gosta muito de baladas, o "Mago" Lione emplacou outra, e "Bleeding Heart" emocionou o Opinião. Com "Tides of Change - Part I e II", Soto voltou ao palco para somar sua voz à do Fábio, embalando com a "The Show Must Go On" em tributo ao "Queen".

Na reta final, o "bis" ficou por conta de "Carry On" e "Nova Era", que nunca decepcionam e fazem o público gastar toda energia restante. Impossível não falar da qualidade de todos que passaram pelo palco na noite, desde a banda de abertura até o encerramento. Angra está em um ótimo momento, com os músicos entrosados e presenteando todos com um setlist que passeia pela sua trajetória de sucessos. E que venham mais presentes como esse para os gaúchos, sempre ansiosos para recepcionar de braços abertos músicos incríveis e convidados especiais.



quarta-feira, 17 de abril de 2024

THEOCRACY - MOSAIC (2023)

 

THEOCRACY
MOSAIC
Shinigami Records Atomic Fire - Nacional

Há alguns anos, o Power Metal vem dando sinais de um retorno triunfal. Obviamente que tudo o que tinha que ser criado, já aconteceu, não acredito que dê para reinventar a roda, mas as boas bandas e músicas vão sobrevivendo e nascendo. O Theocracy está na cena por pouco mais de duas décadas, sua temática cristã ultrapassou barreiras e pré-conceitos. “Mosaic” chega ao mundo após sete anos de espera dos fãs, e, posso garantir, valeu a pena.

O álbum abre com a bombástica “Flicker”, sim, clichê de 10 entre 12 álbuns de metal melódico. Rápida, bumbo duplo, vocais e refrãos grudentos, a alegria dos fãs de Helloween, Gamma Ray e Stratovarius está garantida. “Anonymous” tem uma batida mais pesada, o riff mais sombrio, o pé larga do freio no refrão, mas nada que acelere tanto fazendo a ponte para maravilhosa faixa-título. Suas linhas melódicas, calmas e cativantes no início ganham adrenalina, mas sem perder a beleza, sendo assim uma das minhas favoritas do álbum.

Matt Smith (vocal), Jonathan Hinds (guitarra), Taylor Washington (guitarra), Jared Oldham (baixo) e Ernie Topran (bateria) estavam inspirados e souberam dosar muito o material entre a “alegria” e os momentos épicos cheios de coros que o estilo da banda pede com a complexidade e genialidade do Prog Metal. Sem soar enjoativo, muito pelo contrário, as 10 faixas são um quebra cabeça onde cada peça é fundamental para o fechamento apoteótico que o disco pede. Antes de irmos aos conformes, vale alguns destaques.

“The Sixth Great Extinction” é firme, com riffs marcantes e uma bateria cheia de quebradeira e alucinada. A balada “The Greatest Hope” traz consigo o modo clássico, suave e refrão para se cantar junto. Confesso que é impossível não “gastar” alguns bons repeat na música, ela traz paz, mesmo tendo um tema tão delicado como a perda. O Theocracy com seus bons anos de estrada, os quatros antecessores não precisam mais ser coadjuvantes, nem cópias, e a prova disso chega no final.

“Red Sea” é um resumo de tudo que encontramos em “Mosaic”, o peso, o Power Metal acelerado, as melodias, os refrãos, a complexidade e genialidade. Os seus vinte minutos podem assustar, mas é uma viagem gratificante de se fazer. Interessante que ela tem “gingado”, uma fórmula que envolve o ouvinte, ao mesmo ponto que entra numa velocidade que te faz pular de cabeça no redemoinho sonoro do grupo americano — A faixa é o encerramento inesperado, mas perfeito. O Theocracy não apenas colocou o seu melhor trabalho, mas, sim, um dos melhores discos de heavy melódico dos últimos anos.

Imperdível!

William Ribas




terça-feira, 16 de abril de 2024

ABORTED - VAULT OF HORRORS (2024)

 

ABORTED
VAULT OF HORRORS
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

A primeira coisa que me vem à cabeça quando vejo um novo álbum do Aborted é: “Nos anos 80 eles teriam aquele adesivo maneiro "Parental Advisory: Explict Content”. Toda capa é tão maravilhosamente abominável que os olhos brilham e os tímpanos já se retraem com medo do que está por vir.

Cada novo trabalho, a banda se supera, consegue ser mais brutal e sangrenta do que nos discos anteriores. Não sei se possa ter alguma aposta interna, ou, vontade de entrar no Guiness Book, não sabemos. O que sabemos é que agressividade jorra das 10 faixas de “Vault of Horrors” . O décimo segundo disco de estúdio do Aborted surpreende antes mesmo do início da audição, as músicas são baseadas em filmes de terror. Clássicos são clássicos, e o Aborted soube muito bem tirar o melhor de cada atmosfera da telona para musicalizar — “A Coisa”, “O Massacre da Serra Elétrica”, “O Retorno dos Mortos Vivos”, “Hellraiser”, “Halloween”, “O Enigma de Outro Mundo”, “A Mosca”, “O Príncipe das Sombras”, “A Morte do Demônio: A Ascensão” e “O Nevoeiro”, ganharam urros e instrumental frenéticos.

Outro fator que faz o trabalho ganhar pontos é que cada faixa conta com participação especial de um vocalista diferente, fazendo com que tudo soe ímpar, ficando longe de qualquer monotonia. A abertura, com “Dreadbringer”, tem o protagonismo do instrumental bruto e os vocais de Ben Duerr (Shadow of Intent) deixam o ouvinte assombrado. Na sequência a participação especial de Francesco Paoli, do Fleshgod Apocalypse na maravilhosa “Condemned to Rot” — O peso surpreende, a velocidade é mais que esperada, mas o toque atmosférico faz a faixa ter amplitude, ser muito mais que “barulho”.

“Btotherhood of Sleep” é mais “parada”, uma faixa para bater cabeça, inquieta que troca de andamentos a todo instante, conta com a participação de Johnny Ciardullo (Angelmaker). “Death Cult” não brinca em serviço, é um arregaço, não deixa pedra sobre pedra, novamente a banda vive numa montanha-russa, entre agressividade e a densidade, tornando facilmente uma das melhores do disco por sua dinâmica diversificada. A sequência levanta defunto, “Hellbound”, “Insect Politics” e “The Golgothan” provavelmente seja um dos melhores momentos da história do Death/Grind. São três faixas onde sãos poucas palavras que são audíveis, mas que a brutalidade é tão descomunal que você sai sorrindo. Sim, aquele sorriso sarcástico onde “aparece sangue por todos os lados e há celebração por tamanha carnificina”.

O Aborted acerta precisamente em “Vault of Horrors”, violento, mas que não deixa sequelas, muito pelo contrário. Os 40 minutos de audição passam num piscar de olhos, logo o fã se torna um sadomasoquista, apanhando e desejando por mais e mais de “Naturom Demonto” e “Malevolent Haze”, entre outras.

William Ribas




SAMAEL - PASSAGE - LIVE (2024)


SAMAEL
PASSAGE - LIVE
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

Não apenas mais um “ao vivo”: uma verdadeira celebração à música pesada e sombria. Este é o espírito de “Passage – Live”, registro que comemora os 25 anos de “Passage”, uma das mais icônicas obras da igualmente icônica e soturna banda suíça Samael. Gravado na cidade de Cracóvia na Polônia, em um show com ingressos esgotados e ao final de sua festiva turnê europeia, a “Passage 25th Anniversary Tour”, o grupo entrega energeticamente sua agressividade e climática tenebrosa nesta bela apresentação em que, conforme previsto, executam integralmente o setlist do destacado álbum de 1996.

Considerada uma das bandas mais relevantes e influentes de um gênero que se traduz em uma mescla de estilos como o Black Metal Sinfônico, o Industrial e o Dark Gothic Metal, o Samael foi extremamente eficaz em “Passage – Live” ao presentear o público com a sua mais crua e transparente essência. Ainda assim, eles conseguem soar renovados em suas interpretações em relação ao disco homenageado. Certamente, "Passage” foi um divisor de águas na carreira do Samael que – sabiamente - abandonou o morno Black/Gothic Metal que faziam para incorporarem um viés mais industrial e atmosférico, tendências que os alçariam como um dos nomes mais importantes e lendários da cena. Sendo assim, é mais do que justificada sua escolha para conceber essa versão ao vivo.

Além disso, o disco também marca a história do Samael por ser o primeiro registro nesse modelo com a formação atual, composta pelo líder e membro fundador Vorph (vocais e guitarra), Xystras (bateria, teclados e sintetizadores), Thomas ‘Drop’ Betrisey (guitarras) e Ales Campanelli (baixo). A partir do primeiro play, é perceptível o quão entrosado o line-up está e quão poderosa e vívida é uma obra do calibre de “Passage”. Costumo dizer que um álbum ao vivo é um raio-x da alma de uma banda. Ali suas potencialidades, vicissitudes, peculiaridades e – em várias ocasiões – falhas são deflagradas de maneira mais orgânica que um álbum de estúdio. Sabemos que muitas bandas “enganam” em seus registros ao vivo, usando e abusando dos recursos de uma mesa de som ou de programas de computador para entregar o produto final “mais aceitável”, por assim dizer, porém, em minha incerta opinião, o Samael parece não ter utilizado desses subterfúgios. Até mesmo porque a banda calca seus sons em toda parafernália eletrônica e de programações que o Industrial pede e possibilita.

Contudo, a despeito dessa opção estilística, o Samael ao vivo não soa artificial. “Passage – Live” é visceral e emocionalmente profundo como uma viagem pela umbra e outros confins trevosos indicam ser. Vorph entrega suas entranhas em seus vocais rasgados e intensos, acompanhado pela sinfonia funesta e atmosférica dos instrumentais do grupo, que, indubitavelmente, possuem uma das sonoridades mais singulares no universo da música pesada. Não tem jeito: apenas Samael soa como Samael.

Aos familiarizados com o repertório do álbum, vale destacar algumas notáveis interpretações nesse célebre espetáculo. Após a abertura instrumental, “Rain” é arremedada com vigor e agressividade espantosa, efetuando uma estrondosa e vibrante aclamação do público, logo ao início. “Angel’s Decay” poderia servir como trilha sonora de um rito macabro, pela ambientação e versificação entoada por um voraz e inspirado Vorph. Aliás, após essa música, ele saúda o público presente e conclama, como um astuto anfitrião, o motivo de estarem ali: a celebração dos 25 anos de “Passage”. Na esteira de destaques desse live, “Jupiterian Vibe” incendeia o público presente, que sincopado aos tambores incidentais de Xystras, grita e canta com um impressionante entusiasmo. Energia em alta vibração que também é percebida em “The Ones Who Cames Before”, uma pérola instrumental de como seriam as trevas pela ótica musical de samples eletrônicos e de riffs velozes e intensos.

Impossível também não citar o hino “Moonskin”, em uma sólida e harmoniosa interpretação que incita a, talvez, maior ovação da audiência. Nessa linha, a densa e pesada “Born Under Saturn” oferta um dos melhores e mais memoráveis momentos do show. Não obstante, em sua totalidade – embora tenha citado apenas algumas das faixas do concerto – é nítida a qualidade e a identidade do Samael do início ao fim desse formidável e sombrio percurso.

Como mencionado ao início dessas palavras, “Passage – Live” é uma verdadeira celebração ao legado e à obra da lendária e soturna banda suíça. Imponentemente, o Samael entrega um vigoroso registro ao vivo de como conceder e honrar sua distinta arte e seus apreciadores.

Gregory Weiss Costa




HYPOCRISY - INTO THE ABYSS (2000/2023)

 

HYPOCRISY
INTO TEH ABYSS
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Olhando para a discografia do Hypocrisy, a primeira década é de trabalho e mais trabalho. Diversas demos, split e álbuns ao vivo. Na chegada dos anos 2000, temos o sétimo disco de estúdio da banda, “Into the Abyss”, pouco mais de 1 ano do lançamento de “Hypocrisy”, literalmente, a banda viveu para compor, gravar, cair na estrada, compor, gravar e cair na estrada novamente.

“Into the Abyss” é o mais cru da sequência dos últimos trabalhos, mas, não deixando de lado o modo experimental que vinha sendo o diferencial dos últimos anos. A banda deixou um pouco de lado aquele coisa mais climática e linhas acústicas. Aqui, parece que Peter Tägtgren e companhia tinham no radar o Black Metal norueguês como uma espécie de inspiração não declarada. Inclusive , os vocais de Tägtgren remetem bastante ao estilo no disco, deixando bastante de lado as linhas limpas e urros de outrora.

O lema: "Menos é Mais", traz consigo uma absorção mais rápida das músicas, são 42 minutos de barulho, de agressividade e muito peso, deixando claro que a intenção é fazer o fã bater cabeça do início ao fim. Não que eles não tenham olhado no retrovisor e ajustado uma coisa aqui, ali para movimentos mais leves, experimentais, ou, porque, não dizer, mainstream. Existe um peso bastante interessante ao redor do disco, não são músicas rápidas a todo vapor onde abrimos rodas. Sim, temos Legions Descend” e “Blinded” que agitam bastante, mas acabam não sendo uma regra no disco, muitas vezes o sentimento é balançar a cabeça e erguer o bom copo de cerveja para alto. Por exemplo em “Resurrected”, “Digital Prophecy”, “Unfold The Sorrow” e “Deathrow (No Regrets)”

Into the Abyss” é o fechamento de ouro para os primeiros 10 anos. É Peter Tägtgren, Mikael Hedlund e Lars Szöke sendo eles, não ficando parados em fórmulas, fazendo do jeito deles e mostrando que o peso e os instrumentos em chamas sempre estarão no Hypocrisy.

William Ribas